Família diz que defensora do meio ambiente morreu ao tentar salvar cão em Brumadinho

G1


Vítima era secretária municipal e costumava fazer abaixo-assinados contra os impactos da atuação da Vale; velório foi acompanhado por centenas de pessoas

Sirlei de Brito Ribeiro era conhecida pelos esforços dedBRUMADINHO - Enquanto as buscas por vítimas continuam emBrumadinho (MG), famílias vivem o drama de velar e enterrar os mortos deixados pelo rompimento da barragem da Valena última sexta-feira. O caso da advogada e secretária municipal de Desenvolvimento Social da cidade mineira, Sirlei Brito Ribeiro, de 47 anos, é um dos que mais tem chamado a atenção da cidade em meio ao luto. Ela era defensora dos meio ambiente e teve a chance de se salvar da tragédia, mas tentou levar consigo uma cadela de estimação e acabou ficando presa na lama de rejeitos. O velório de Sirlei reuniu centenas de pessoas na Câmara Municipal do município durante a manhã desta quarta-feira.icados à natureza e aos animais; ela foi uma das vítimas da tragédia em Brumadinho (MG) Foto: Bárbara Fereira / O



Lembrada por populares pela vontade de ajudar a comunidade, Sirlei morava a 500 metros da barragem, na região do Córrego do Feijão, e convivia diariamente com os funcionários da mineradora. Ela costumava fazer abaixo-assinados contra os impactos da Mina e estava sempre envolvida na luta pela melhoria de vida da população local. Eduardo Toscano lembra também que ela era muito apegada aos animais e cuidava de vários deles em casa e que militava pelo meio ambiente.

— Ela estava em casa com um jardineiro e uma empregada. O jardineiro nos contou que eles ouviram o barulho e viram a lama vindo. Correram. Mas ela voltou. Acreditamos que tenha ido buscar a cachorrinha. Era muito apegada — conta o cunhado de Sirlei, Eduardo Toscano, de 55 anos. A versão dele foi confirmada por uma amiga da secretária, que também ouviu o relato dos dois funcionários.
FOTOS: O DRAMA DOS ANIMAIS EM BRUMADINHO

Voluntários tentaram, em vão, salvar vaca atolada na lama de rejeitos no Córrego do Feijão, em Brumadinho. O animal acabou sacrificado por veterinários, colocando fim a uma agonia de dois dias Márcia Foletto / Agência O GloboNem mesmo peixes escaparam da destruição deixada pela tsunami de lama, liberada após o rompimento da barragem da Vale. O conteúdo tóxico invadiu o rio Paraopeba, que ganhou tom alaranjado logo após a tragédia e, agora, está irreconhecível ADRIANO MACHADO / REUTERSEm Brumadinho, animais são vítimas e socorristas. Cães são instrumentos fundamentais para o trabalho das equipes de busca do Corpo de Bombeiros. O faro pode ajudar na localização de sobreviventes e corpos Márcia Foletto / Agência O GloboNa fuga da avalanche de lama, muitos moradores deixaram para trás seus animais de estimação, como pássaros em gaiolas. Bombeiros resgataram vários deles com vida e puderam liberá-los MAURO PIMENTEL / AFPMuitas gaiolas encontradas em casas abandonadas foram recuperadas pelo Corpo de Bombeiros antes que os passaros morressem de inanição MAURO PIMENTEL / AFP
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Além das perdas humanas, uma quantidade inestimável de animais domésticos e silvestres não pôde escapar da tragédia. Na foto, uma galinha jaz camuflada no ambiente tomado pela lama de rejeitos ADRIANO MACHADO / REUTERSVoluntários de grupos de protetores de animais que tentaram salvar animais presos em áreas consideradas críticas pela Defesa Civil denunciaram a resistência da Polícia Militar, que temiam pela segurança e chegaram a instalar tapumes, e a falta de apoio da Vale. Os populares acabaram usando o material para chegar a uma das vacas presas, evitando a lama movediça Márcia Foletto / Agência O GloboProtetores de animais que se deslocaram até a região do Córrego do Feijão após a tragédia ainda mantêm a esperança de que um novilho preso à lama consiga se soltar quando o material secar. O animal, encontrado próximo à vaca que precisou ser sacrificada, tem sido mantido pelos voluntários com água e feno, mas demonstra aflição com a situação Márcia Foletto / Agência O GloboImpacto da onda de lama foi tão forte e repentino que arrasou matas e arrancou árvores, pegando até mesmo pássaros de surpresa WASHINGTON ALVES / REUTERSTrês dias após a tragédia, muitos animais - vivos ou mortos - ainda estão presos na lama. Segundo a Vale, oito equipes atuam no resgate da fauna com suporte de biólogos da companhia e de empresas contratadas, além de especialistas em fauna silvestre e veterinários ADRIANO MACHADO / REUTERS
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Muitos cães vagam pelo Córrego do Feijão em busca dos donos, falecidos ou desaparecidos após o rompimento da barragem da Vale MAURO PIMENTEL / AFPOutros, como o cão fotografado na comunidade do Parque da Cachoeira no último sábado, não escaparam da avalanche de lama, mas conseguiram sair com vida após a tragédia MAURO PIMENTEL / AFP

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Vizinhos que também deixaram o local contam que a advogada ficou paralisada durante a tentativa de fuga e de resgate. Hoje, ela está na lista de 42 corpos já identificados pelo Instituto Médico Legal (IML) de Belo Horizonte (ao todo, são 84 mortos já localizados pelo Corpo de Bombeiros). Para a família dela, restaram a dor e a revolta.Globo


(A dor) É de centenas de pessoas. A revolta também não é só por ela, mas por todos. Sabemos agora é que a Vale é criminosa e é um crime reincidente. Quem sabe dessa vez vejamos uma postura de uma punição efetiva para este crime — desejou Toscano.

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O marido de Sirlei é engenheiro e já foi funcionário da Vale. Segundo parentes, após sair do ramo de minérios, ele passou a apoiar a mulher em sua luta. Seja pelos caminhões que colocavam as pessoas do Córrego do Feijão em risco (por conta da velocidade em vias rurais), seja pela poeira que afetava a saúde da população, ou pelo risco iminente de rompimento das barragens. Ela sempre pediu por mudanças efetivas por parte da empresa, mas acabou vítima do "mar de lama" que tanto tentou combater.
Animais têm preocupado ativistas e autoridades

O Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-MG) informou que 36 animais já foram resgatados pela Brigada Animal em Brumadinho. A equipe realizou uma reunião de planejamento na manhã desta quarta-feira para avaliar as ações e o tratamento oferecido.

As ações contam com a participação de 30 profissionais, entre médicos-veterinários, zootecnistas e voluntários, e também com a parceria da Escola de Veterinária da UFMG e da Anclivepa Minas, Sociedade Mineira de Medicina Veterinária e Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA).
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